Total de visualizações de página

sábado, 16 de outubro de 2010

Flamengo Campeão Mundial Interclubes 1981

Muitos achavam que o Flamengo era um time que só conquistava títulos no Maracanã. A Taça Libertadores, vencida no Uruguai, balançou a tese. Depois, o show seria em Tóquio.
Os craques rubro-negros entraram em campo no dia 13 de dezembro de 1981, para enfrentar o Liverpool pelo Mundial Interclubes, com o objetivo de exterminar uma velha máxima ouvida pelos quatro cantos do Brasil: "o Flamengo é time de Maracanã, só neste estádio mostra superioridade". É verdade que, apenas 20 dias antes, o clube carioca conquistara a Taça Libertadores em Montevidéu, no Uruguai, ao derrotar o Cobreloa, do Chile. Mas pouco importou para os críticos. Para convencê-los, o jeito era superar os ingleses. Com sobras, de preferência.
Tudo indicava que não seria fácil. O Liverpool passava por uma fase semelhante à do Flamengo, conquistando títulos há muitos anos. Por coincidência, a primeira taça importante, a da Copa dos Campeões da Europa, foi conquistada em 1978, mesmo ano em que o clube da Gávea vencia o Campeonato Carioca, dando início a uma era de ouro em sua História. A saga vitoriosa do Liverpool seguiria com dois títulos de campeão Inglês, em 1979 e 80, uma Copa da Inglaterra, em 81, e uma nova conquista da Copa dos Campeões da Europa, também em 81. Enquanto isso, o Flamengo arrebatava mais três Campeonatos Cariocas, 79, 79 (Especial) e 81, um Brasileiro (80) e uma Taça Libertadores (81). Os capitães das duas equipes, Thompson e Zico, deviam estar exaustos de tanto praticar levantamento de troféus.
Na guerra dos currículos, pior para o clube brasileiro. Para os especialistas em futebol, as campanhas dos títulos recentes do Liverpool haviam sido mais árduas. Por exemplo, em 1981, enquanto o Flamengo vencera o desconhecido Cobreloa na decisão da Libertadores, o time inglês superara Bayern de Munique e Real Madrid nas duas últimas fases - semifinais e final, respectivamente - da Copa dos Campeões. Pois é, só que essas teses pouco valeriam em Tóquio. Em campo, como adoram repetir os jogadores, seriam 11 contra 11. Durante o jogo decisivo, aí sim, surgiria o favorito.
Os 62.000 torcedores que compareceram ao Estádio Nacional não tiveram que esperar muito para saber qual era o melhor time em campo. Aos 13 minutos, Zico lançou Nunes que viu a saída desesperada do goleiro Grobbelaar e, ainda fora da grande área, O segundo tempo foi arrastado, chato mesmo de se ver. O Liverpool não mostrava forças para reagir, limitou-se a ficar na defesa - talvez temendo sofrer uma goleada ainda mais humilhante. Os craques do Flamengo tocavam a bola de pé em pé sem objetividade, envolvendo os combalidos adversários e esperando o tempo passar. Foram 45 minutos de total domínio rubro-negro sobre os ingleses.
Final de jogo e festa no Brasil, o clube mais popular do país conquistava o mundo. Agora, definitivamente, o Flamengo não poderia ser chamado de "time de Maracanã". Afinal, provou ser imbatível em todo o canto, até mesmo do outro lado do planeta.o encobriu para abrir o placar. "Acidente de percurso", pensaram os ingleses. Coitados, mal sabiam que o show rubro-negro estava apenas começando.
Não se pode dizer que o Liverpool não contava com talentos capazes de inverter o rumo da partida. Os habilidosos Souness e Dalglish, dois dos maiores jogadores da História do futebol escocês, poderiam brilhar a qualquer momento, fazendo o Flamengo tremer. Tremer? Presta atenção no time dirigido por Paulo César Carpegiani: Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Havia craques por todos os lados, vencê-los era tarefa quase impossível.
E o pior para os ingleses era que Zico estava inspirado, levando à loucura a defesa adversária. Aos 34 minutos, McDermott derrubou Tita na entrada da área e o Galinho se encarregou da cobrança da falta, mandando a bomba que Grobbelaar apenas rebateu. Na sobra, Lico acertou Thompson e Adílio, esperto, estufou a rede: 2 a 0.
O Liverpool bambeou, faltava pouco para ruir de vez. A solução era torcer para que o primeiro tempo terminasse logo, com a intenção de se recuperar dos ferimentos no intervalo. A tática estava acertada, só faltou avisar a Zico e Nunes. Aos 41 minutos, o maior jogador do Flamengo em todos os tempos lançou novamente o centroavante, que avançou e bateu na saída do goleiro. Com 45 minutos de antecedência, a taça já tinha destino certo: o Rio de Janeiro.

Curiosidades sobre o Flamengo

1) As primeiras cores foram o Azul (da Baía da Guanabara) e o Ouro (das riquezas brasileiras), que em 1896 são trocadas para o Vermelho e Preto que eram as cores da bandeira do Jockey Clube Brasileiro, conforme depoimento de um dos fundadores do clube Augusto Lopes da Silveira a publicação ÁLBUM RUBRO NEGRO (Edição nº. 01 de 1952 página 94); devido ao Azul e Ouro desbotarem com muita facilidade por causa da salinidade das águas da Baía da Guanabara e do sol, além da dificuldade na importação do tecido da França e da Inglaterra.
Obs.: A primeira bandeira nas cores vermelho e preto, foi confeccionada pela esposa do Sr. Augusto Lopes da Silveira.
2) O Flamengo é o maior vencedor da Taça Guanabara. Ao todo foram 18 títulos contra 11 do Vasco da Gama que é o segundo maior vencedor da Taça. O primeiro título do Flamengo veio em 1970, e a competição existe desde 1965.
3) Foi em 1927 que o Flamengo ganhou outra importante disputa com o Vasco. Tudo aconteceu quando o Jornal do Brasil lançou um concurso para escolher "O Clube mais querido do Brasil". O vencedor levaria a "Taça Salutaris", troféu de cerca de um metro e meio, banhado em prata, oferecido por uma engarrafadora de água mineral do mesmo nome.
O procedimento do torcedor era levar o rótulo do produto preenchido com o nome do seu time na sede do Jornal do Brasil. Ao final quem tivesse mais votos, Flamengo ou Vasco, ganhava o concurso. Simpatizantes dos dois clubes mobilizaram-se para a batalha. Os portugueses encheram sacolas e mais sacolas de rótulos. Por serem comerciantes tinham maior poder aquisitivo é claro.
Mas os Rubro-Negros não se deram por vencidos e brilhantemente reverteram o golpe português, que saiu pela culatra. No dia da apuração, disfarçados (com escudinhos do Vasco na lapela e sotaque lusitano) receberam os cupons dos "patrícios" e despejaram tudo fora. No começo, nas latrinas do prédio do jornal e mais tarde , no poço do elevador.
Saiu o resultado e a "Salutaris" é levada em triunfo para a Praia do Flamengo, onde se segue um longo e debochado carnaval. Os vascaínos protestam , fazem questão de divulgar o episódio, achando que com isso iriam estragar a reputação Rubro-Negra. Mas outra vez o tiro sai pela culatra. O cartaz do Flamengo só faz aumentar. Afinal, a imaginação, inteligência, criatividade e a audácia de seus torcedores superaram o poderio econômico e as armações vascaínas. Armações que vemos até hoje e que na maioria das vezes destruímos dentro e fora de campo. O Vasco que enxugue as lágrimas sempre.
Acima, a foto da TAÇA SALUTARIS com a primeira bandeira nas cores azul e ouro ao fundo
4) O maior público registrado até hoje no Campeonato Brasileiro foi no jogo Flamengo 3 x 0 Santos, em 1983, 155.253 flamenguistas lotaram o Maraca e viram o Mengão levar seu 3º título brasileiro.
5) Zico, o maior jogador da história do Flamengo, fez 508 gols com o manto sagrado, conquistou 13 títulos em 16 disputados, e ainda hoje é o 2º maior artilheiro do Campeonato Brasileiro com 133 gols marcados.
6) O urubu, tornou-se o mascote do Mengão, quando em um clássico contra o Botafogo, no qual o alvinegro vencia a partida, a ave pousou no campo com uma bandeira do Fla amarrada e logo depois o Flamengo virou o jogo. Antes disso, outros animais já foram mascotes do Mengo como a cobra-coral, e também o papagaio, além do personagem Popeye.
7) Os maiores artilheiros da História do Flamengo são: Zico( 508 gols), Dida(244), Henrique (214), Romário(205) e Pirilo (201).
8) Você sabia que aquelas seis estrelas do uniforme do Flamengo, representam os 5 tricampeonatos estaduais (42-43-44/ 53-54-55/78-79-79/99-2000-2001/07-08-09) e o mundial interclubes conquistados pelo Mengão?
9) Dois alagoanos já foram destaques no Flamengo: Dida, vice-artilheiro da história rubro-negra; e Zagallo, que foi tri-campeão carioca pelo Flamengo na década de 50.
10) O Flamengo possui as melhores estatísticas em toda história dos Campeonatos Cariocas: jogador com mais títulos: Zico (7 estaduais); jogador com mais gols em um Estadual: Sílvio Pirillo - 39 gols; clube com maior nº de vitórias: 1.165; clube com maior nº de gols marcados: 4.392; clube com a melhor média de gols-pró: 2,32; clube com o maior nº de títulos no Maracanã:16 no Maraca.
11) Em 1914 o time de futebol do Flamengo sua primeira excursão na história. O Fla viajou ao Paraná, e disputou 3 jogos contra a Seleção de Paranaguá, a eção de Curitiba e o Internacional-PR, vencendo os jogos por 15x0, 9x1 e 7x1 respectivamente. O Flamengo jogou com: Baena, Pindaro, Nery, Angelo e Gallo. Miguel, Pinho, Arnaldo e Baiano. Joca e Juarez. O primeiro jogo, contra o Internacional-PR marcou a inauguração do estádio Joaquim Américo (atual Arena da Baixada).
12) O ano de 1993 foi o ano que o Flamengo mais jogou na história do clube no futebol. Ao todo foram 102 partidas, e 46 vitórias. Depois do ano de 1993, o ano em que o Flamengo mais jogou foi em 1997, quando o clube disputou 92 partidas de futebol.
13) Três goleiros do Flamengo já marcaram gols com o manto sagrado. O primeiro foi de Ubirajara, que num jogo contra o Madureira no Campeonato Carioca de 1970, com ajuda de fortes ventos, fez um gol de tiro de meta no estádio Luso Brasileiro. O segundo foi feito por Zé Carlos, que de penalti marcou o seu em um jogo que o Flamengo vencia o Nacional-AM por 4x2 em 1997. O Terceiro foi Bruno. Que marcou 3 gols com a camisa do Flamengo. 2 gols de falta e um gol de penalti.
14) Candiota foi o primeiro jogador do Flamengo a ser convocado e marcar um gol pela Seleção Brasileira. Candiota marcou seu gol no dia 12 de outubro de 1921 em um jogo que o Brasil venceu o Paraguai por 3x0. Apesar do primeiro gol ter saído apenas em 1921, dezenas de jogadores do Flamengo já haviam sido convocados.
15) O Flamengo dentre os clubes brasileiros, foi o primeiro a ter uma loja temática. A Fla Boutique localizada na Sede da Gávea, foi a primeira das diversas lojas do clube pelo país. Fundada há mais de 25 anos, é uma outra amostra do pioneirismo rubro-negro no futebol brasileiro.
16) O Flamengo foi o primeiro time do Brasil a ter um patrocínio em seu uniforme. Foi em 1984 quando a empresa Petrobrás chegou ao clube da Gávea, mantendo-se até hoje, sendo também o mais longo patrocínio de futebol no país.
17) Voce sabia que o Flamengo ficou invicto 52 jogos entre os anos 1978/1979.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Hinos

Hinos do Flamengo
Hino Oficial do Flamengo
O hino oficial do Flamengo, também chamado de "marchinha", foi composto em 1920 com letra e música de Paulo Magalhães (ex-goleiro do clube), gravado em 1932 pelo cantor Castro Barbosa e registrado em 1937 no Instituto Nacional de Música.
O hino foi cantado pela primeira vez em 15 de novembro de 1920 na Rua Paysandu, no jogo C.R.Flamengo 1x1 Palmeiras (RJ).
Abaixo, confira a ilustração do Hino oficial do Flamengo de 1920.
Composição: Paulo Magalhães
Flamengo, FlamengoTua glória é lutarFlamengo, FlamengoCampeão de terra e mar
Saudemos todos com muito ardorO pavilhão do nosso amorPreto encarnado, idolatrado,De mil campões o vencedor
Flamengo, FlamengoTua glória é lutarFlamengo, FlamengoCampeão de terra e mar
Lutemos sempre com valor indefinidoArdentemente com denodo e féQue o seu futuro ainda será mais lindoQue o seu presente tão lindo é
Flamengo, FlamengoTua glória é lutarFlamengo, FlamengoCampeão de terra e mar
O Hino Popular do Flamengo
O hino popular do Flamengo tem letra e música de Lamartine Babo [+]. Foi gravado pela primeira vez por Gilberto Alves em 1945. É o mais conhecido e o que canta as glórias do clube, cujo refrão é "Uma vez Flamengo, sempre Flamengo".
Composição: Lamartine Babo
Uma vez FlamengoSempre FlamengoFlamengo sempre eu hei de serÉ o meu maior prazerVê-lo brilharSeja na terraSeja no marVencer, vencer, vencerUma vez FlamengoFlamengo até morrerNa regata ele me mataMe maltrata, me arrebataDe emoção no coraçãoConsagrado no gramadoSempre amado, o mais cotado,Nos "Fla-Flus é o Ai, Jesus"Eu teria um desgosto profundoSe faltasse o Flamengo no mundoEle vibra, ele é fibraMuita libra já pesouFlamengo até morrerEu sou.

Titulos

Mundial Interclubes
1981
Taça Libertadores da América
1981
Copa Mercosul
1999
Copa Ouro Sulamericana
1996 (Invicto)
Campeonato Brasileiro
1980, 1982, 1983, 1987, 1992 e 2009
Copa do Brasil
1990 (Invicto) e 2006
Copa dos Campeões
2001
Taça Brahma dos Campeões
1992
Torneio Rio-São Paulo
1961
Copa dos Clubes Brasileiros Campeões Mundiais
1997 (Invicto)
Campeonato Carioca
1914, 1915 (Invicto), 1920 (Invicto), 1921, 1925, 1927, 1939, 1942, 1943, 1944, 1953, 1954, 1955, 1963, 1965, 1972, 1974, 1978, 1979 (Invicto), 1979, 1981, 1986, 1991, 1996 (Invicto), 1999, 2000, 2001, 2004, 2007, 2008 e 2009
Torneio Inicio do Carioca
1920, 1922, 1946, 1951, 1952, 1959.
Taça Guanabara
1970, 1972 (Invicto), 1973 (Invicto), 1978, 1979, 1980 (Invicto), 1981, 1982, 1984, 1988, 1989 (Invicto), 1995, 1996 (Invicto), 2001, 2004, 2007 e 2008
Taça Rio de Janeiro
1978 (Invicto), 1983, 1985 (Invicto), 1986, 1991 (Invicto), 1996 (Invicto) e 2000.
Campeonato da Capital
1991 (Invicto)
Taça Estado do Rio de Janeiro
1991 (Invicto)
Torneio Extra do Rio de Janeiro
1934 (Invicto)
Torneio Aberto do Rio de Janeiro
1936 (Invicto)
Torneio Relâmpago do Rio de Janeiro
1943 (Invicto)
Torneios Internacionais
Quadrangular de Lima (Peru)Quadrangular da ArgentinaQuadrangular de IsraelHexagonal do PeruOctogonal de VerãoQuadrangular da TunisiaTroféu Naranja (Espanha)Quadrangular do EquadorQuadrangular do MarrocosT. Ciudad Palma de Mallorca (ESP)Toféu Ramon de Carranza (ESP)Ciudad de Santander (ESP)Copa Punta del Este (URU)Torneio de Nápolis (ITA)Torneio Air Gabon (Gabão)T. Internacional de AngolaCopa Kirin (Japão)Troféu Colombino (ESP)Torneio de Hamburgo (ALE-Oc.)Copa Marlboro (EUA)Taça Libertad (ARG)Pepsi Cup (Japão)Torneio See'94 (Malasia)Triangular do R. de Janeiro (BRA)T. Gilberto Cardoso (RJ-BRA)Torneio Inter. de Verão (RJ-BRA)Quadrangular de Goiás (GO-BRA)
1952195319581959196119621964 e 19861966196819781979 e 1980198019811981198719871988198819891990199319941994195419551970 e 19721975
Torneios Nacionais/Estaduais
Triangular de Curitiba (PR)Triangular de GoiásQuadrangular do Espirito SantoTorneio do PovoTorneio de 320 de Judiaí (SP)Torneio Elmo Serejo (DF)T. de Inauguração do Estádio José Fragelli (Cuibá/MT)Quadrangular de Varginha (MG)Torneio Cidade de Brasilia (DF)Taça Madame Gaby Coelho NettoTroféu América Fabril
1953196519651971197519761976 1990199719161919 e 1922

Flamengo

A Origem
Em fins do século XIX, o remo dominava o Rio de Janeiro. O futebol começava a aparecer em alguns clubes, mas ainda era olhado com certo temor, pois não estava sendo recebido com entusiasmo pela sociedade carioca. Entretanto, como era o remo quem mandava, as competições movimentavam as manhãs no Rio antigo e não havia praia que não tivesse o seu grupo de regatas. A turma da praia do Flamengo não acompanhava o resto dos rapazes, preferindo os passeios de barco pela baía e o bate-papo no Lamas, o já famoso restaurante do Largo do Machado.
Entretanto, a idéia de se formar um grupo na praia mais movimentada do Rio começava a nascer e numa noite de setembro de 1895, José Agostinho Pereira da Cunha perguntou a Nestor de Barros, Mário Spíndola e Augusto da Silveira Lopes o que achavam em de se fundar um clube de remo. Eles concordaram com a idéia, a notícia correu logo pelo Largo do Machado e as adesões surgiram na primeira noite. Entretanto, para se tornar um clube de regatas, havia necessidades de um barco, naturalmente.
Havia uma baleeira a cinco remos, meio gasta, que poderiam comprar. E nada mais justo do que os que tivessem dinheiro fossem os primeiros a colaborar e, assim, Mário Spíndola, Felisberto Laport, Nestor de Barros, José Félix da Cunha Menezes e José Agostinho Pereira da Cunha contribuíram com quatrocentos mil réis, o suficiente para a compra da veterana embarcação, que teria que passar por uma reforma completa para ser o barco oficial do novo grupo que se formava.
Pherusa foi o nome dado ao barco e, para os devidos reparos, alguém indicou um armador de Maria Angu. Serviço perfeito por duzentos e cinqüenta mil réis e, mais uma vez, o pessoal que podia colaborar, colaborou. A manhã do dia 6 de outubro foi uma festa, pois era a data marcada para apanhar a ambicionada Pherusa. Um bom grupo foi formado para ir buscar o barco: Nestor de Barros, José Félix, José Agostinho, Mário Spíndola, Felisberto Laport, Napoleão de Oliveira, Maurício Rodrigues Pereira e Joaquim Bahia partiram felizes e mais felizes ficaram ao contemplar Pherusa, novinha em folha, a balançar-se no mar.
Depois do meio-dia saíram orgulhosos da Ponta do Caju já na embarcação. Mário Spíndola dirigia o barco e apesar do tempo feio, nada tirava a empolgação dos rapazes. Entretanto, começou a ventar e a chover e, para tristeza de todos, a Pherusa não conseguia resistir e acabou naufragando. O medo tomou conta dos tripulantes e cada um procurava se manter de qualquer maneira seguro ao que ainda restava do barco. Bahia resolveu nadar até a praia em busca de ajuda, pois era um excelente nadador e o única capaz de tal tarefa.
Bahia sumiu, o vento parou, assim como a chuva e, de repente, uma lancha vinda da Penha viu o sinal de Mário Spíndola - uma bandeira branca - e veio buscar os náufragos. Os tripulantes da lancha Leal salvaram todos e rebocaram a pobre Pherusa, totalmente destroçada. Entretanto, o barco pouco importava, queriam saber de Bahia. Felizmente, Bahia era um bom nadador mesmo e, depois de quatro horas de luta, conseguir chegar à praia, feliz por lá encontrar os seus companheiros. A recuperação de Pherusa foi mais uma vez iniciada, mas quando o barco já estava sendo preparado para novas batalhas, foi roubado e nunca mais foi encontrado. Ficou de Pherusa apenas a lembrança e o desejo de todos em fundar realmente um grupo de regatas.
A Fundação
Um novo barco foi comprado e recebou o nome de Scyra. Faltava agora só reunir o pessoal e fundar o grupo. Na noite do dia 17 de novembro de 1895, muita gente estava num dos corredores da casa número 22 da Praia do Flamengo, onde Nestor de Barros morava num dos quartos. Lá, há muito tempo, já guardavam Pherusa e depois Scyra. A reunião começou e o Grupo de Regatas Flamengo nasceu e com ele a sua primeira diretoria:
" Domingos Marques de Azevedo, presidente " Francisco Lucci Colas, vice-presidente " Nestor de Barros, secretário " Felisberto Cardoso Laport, tesoureiro
Além dos eleitos, foram destacados como sócios fundadores José Agostinho Pereira da Cunha, Napoleão Coelho de Oliveira, Mário Espínola, José Maria Leitão da Cunha, Carlos Sardinha, Maurício Rodrigues Pereira, Desidério Guimarães, George Leuzinger, Augusto Lopes da Silveira, João de Almeida Lustosa e José Augusto Chairéo, sendo que os três últimos faltaram à reunião, mas foram considerados sócio fundadores. Na oportunidade, ficou resolvido que a data oficial da fundação do clube seria 15 de novembro, feriado nacional.
As cores iniciais foram azul e ouro em listras horizontais bem largas. Entretanto, em 1898, por proposta de Nestor de Barros, houve mudança dessas cores para as atuais: vermelho e preto. Novos barcos foram sendo comprados e o Flamengo começou a competir e na I Regata do Campeonato Náutico do Brasil conquista a sua primeira vitória com Irerê, uma baleeira a dois remos, no dia 5 de junho de 1896. Anteriormente, o Flamengo só havia obtido colocações secundárias e muitos segundos lugares, o que lhe valeu, inclusive, o apelido de Clube de Bronze. Em 1902, diante de seu crescimento, houve a transformação para Clube de Regatas do Flamengo.
A Gávea
O primeiro gramado conseguido pelo Flamengo localizava-se na Praia do Russel. Nele foram feitos os primeiros treinos, mas para os jogos do campeonato, conseguiu-se rendar o campo da Rua Paysandu. Na administração de Burle de Figueiredo, verificou-se um surto de progresso e expansão, incrementando-se a prática de diversos esportes.
O Flamengo passou a disputar vários campeonatos, construindo-se, então, o rink para a prática do basquete e da patinação. Outro grande evento da época foi a aquisição da sede náutica. A vida esportiva do clube transcorria normalmente. A conquista de brilhantes vitórias alcançadas pelos seus atletas nas competições aquáticas não sofreu solução de continuidade com o advento da prática dos desportos terrestres, nem tampouco com a passagem do amadorismo para o profissionalismo. Todavia, volta e meia, grandes dificuldades tinham de ser contornadas. Ficou-se na lembrança o plano utilizado na compra dos prédios nos 66 e 68 da praia do Flamengo (hoje sede velha) e que consistiu no acréscimo das mensalidades, destinado ao pagamento da dívida. Em pouco tempo os dirigentes de então liquidaram esse compromisso, sem que houvesse desvios de verba para pagamentos de outra natureza que não a pertinente aos fins a que a mesma se destinava. Mas eis que, ao terminar o arrendamento do campo da Rua Paysandu, os seus proprietários não concordaram com a renovação do contrato, concedendo ao Flamengo, apenas, uma opção de compra. Na falta de verba para atender a uma operação tão vultosa, ficou o Flamengo, novamente sem praça de esportes. Foi quando Pascoal Segreto encetou a campanha pró-estádio da Gávea.
Para complementação da área doada foi preciso aterrar uma faixa da lagoa. De 1940 a 1948, os irmãos Pedro e Paulo Ramos Nogueira trabalharam incansavelmente na conquista da área que faltava. E na gestão de Dario de Melo Pinto, no ano de 1948, em face do término das obras do aterro, pleiteou-se à prefeitura do antigo Distrito Federal, por intermédio de Antero Coelho, a regularização definitiva da doação que fora feita pelo prefeito Pedro Ernesto, o que foi atendido pelo sócio benemérito General Ângelo Mendes de Morais, naquela época Prefeito da cidade.
A garagem da lagoa e aquela ponte da praia do Flamengo que deixou de existir com as obras de duplicação das pistas e posteriormente do aterro, foram obras da administração Bastos Padilha, durante a qual se fomentou uma campanha para solucionar definitivamente o problema da nossa praça de esportes, visto que o Flamengo se vinha utilizando do campo do Fluminense, em troca de uma pequena participação na renda das suas partidas. José Bastos Padilha, Alexandre Baldassini e Mário de Oliveira foram as grandes figuras dessa luta. Para apurar a verba necessária à construção do estádio da Gávea, lançaram uma campanha de aumento de sócios proprietários. E foi em 1938, já na administração Raul Dias Gonçalves, que o Flamengo inaugurou o seu estádio, na Gávea, já há alguns anos totalmente murado e que dispõe de uma área útil total de 60 mil metros quadrados.
Por decreto legislativo da antiga Câmara dos Deputados do antigo Distrito Federal, o Flamengo já possuía uma área de 50 metros de frente por 50 de fundos, na Avenida Rui Barbosa. E na administração Gustavo de Carvalho pleiteou o então Ministro da Guerra, Marechal Eurico Gaspar Dutra, um terreno vizinho a esse que fora anteriormente obtido na administração José Bastos Padilha. Eram mais 93 metros de frente por 50 metros de fundos. Atendida essa pretensão, ficou o Flamengo de posse de dois terrenos situados num dos pontos mais pitorescos da baía da Guanabara. E estava aberto, assim, o caminho para a concretização de uma velha aspiração rubro-negra: a construção de uma sede social capaz de atender às necessidades de uma entidade com tão alto coeficiente de expansão. Uma comissão encarregou-se de conseguir o apoio do benemérito Marechal Eurico Gaspar Dutra, para o plano de construção e financiamento do edifício a ser erguido nos terrenos da avenida Rui Barbosa nº 170. O Marechal empenhou-se pessoalmente no patrocínio da nossa causa, obtendo o apoio financeiro. Assim, sem que se vendesse o terreno nº 66/68, onde está situada a sede velha, mas com um bom planejamento financeiro, ergueu-se o grande edifício da avenida Rui Barbosa. Com dois blocos centrais de 24 pavimentos cada. Os quatro blocos totalizando 148 confortáveis apartamentos, ficando do quarto andar para baixo destinadas todas as suas dependências para a nova e moderna sede do Flamengo, além de algumas lojas. O prédio custou 52 milhões de cruzeiros antigos e seus apartamentos e inauguração da sede nova foi na administração Gilberto Ferreira Cardoso.
Neste período (década de 50) o Flamengo tinha como ídolo maior o craque Dida (Edvaldo Alves Santa Rosa), que antes de uma contusão era o camisa 10 da Seleção Brasileira. Dida foi a Copa de 58, mas ficou no banco de reservas machucado, em seu lugar entrou o garoto, até então reserva Pelé (O Rei Pelé). Dida é também ídolo de Zico, que já confessou diversas vezes a sua influência em seu futebol.
Antes de chegar a "Era Zico", o Flamengo contou também com grandes craques como: Zizinho, Leônidas da Silva, Gérson, Benitez, Doval e Domingos da Guia, e ainda com com Garrincha por uma temporada, que vestiria o Manto Sagrado para encerrar a sua carreira.
Anos 60 e 70
Apesar de nessas duas décadas as conquistas do Flamengo se limitarem mais ao âmbito regional, o clube teve em seu elenco diversos jogadores importantes para o futebol brasileiro e mundial.
Jogadores como Dida, Paulo Cesar Cajú, Gerson, Rondinelli, Doval, Fio Maravilha, Evaristo de Macedo, Reyes, entre outros, fortaleciam as equipes montadas pelo clube. Ainda na década de 60, o Flamengo sagrou-se campeão do Torneio Rio-São Paulo. Na época um título que valia muito mais que a simples rivalidade entre paulistas e cariocas. O maior legado da década de 70, foi revelar ao mundo do futebol a equipe mais vitoriosa do Flamengo, e sem dúvida alguma um dos maiores esquadrões do futebol mundial. Foi nesse período que craques como Zico, Júnior, Leandro, Andrade e outros tão importantes quanto, subiram para a equipe profissional do Flamengo.
Segundo os próprios jogadores, o marco inicial da geração que seria tetra-campeã brasileira (1980/82/83/87), e campeã da Libertadores da América e Mundial (ambos em 1981), foi o tri-campeonato estadual de 1978/79/79, conquistado contra o rival Vasco da Gama.
Anos 80 - A era Zico
A década de 80 foi sem sombra de dúvidas a mais proveitosa em número de títulos para o clube. Neste período a talentosa geração oriunda da base do clube firmou-se no profissional e conseguiu o que as outras gerações tão talentosas quanto não conseguiram, títulos nacionais e internacionais.
Zico, Júnior, Leandro, Mozer, Andrade e Adílio, firmavam-se como a base das equipes que seriam formadas com jogadores que chegavam das categorias de juniores como Jorginho, Leonardo, Tita, Zinho e Bebeto, e com outros bons jogadores vindos de outros clubes (Renato Gaucho, Nunes e vários outros). caminhada do clube rumo aos títulos teve início com o título brasileiro conquistado em 1980 contra a forte equipe do Atlético Mineiro. Em 1981, o título da Libertadores da América contra o Cobreloa (Chile), em jogos tensos, em um país marcado pela ditadura militar de August Pinochet. Após uma vitoria para cada lado o Flamengo venceria a disputa em uma partida extra jogada no Uruguai (campo neutro para ambos os clubes). no mesmo ano, o Flamengo sagraria-se campeão do mundo, após vencer o Liverpool (Inglaterra) por 3 x 0 no estádio Yokohama Marinos (Japão) com uma grande atuação de Zico, e gols de Nunes (2) e Adílio. No final da partida Zico recebeu o trofeu de melhor jogador da partida. O que tornou a disputa interessante ,foi o fato do Liverpool viver momento semelhante ao do Flamengo em seu país.
Em 1982, o segundo título brasileiro contra o Grêmio. Nunes mais uma vez fez valer o seu epíteto de "artilheiro das decisões".
Em 1983, o tricampeonato contra o Santos, em uma partida que viria a ser o recorde de público em partidas do Campeonato Brasileiro.
Em 1987, o tetracampeonato contra o forte time do Internacional. Onde um Zico já veterano comandava um time com os jovens Bebeto, Renato Gaucho, Jorginho, Zinho, Leonardo e etc.
Anos 90 até a atualidade
Os primeiros anos sem Zico, mesmo sem ele, foram de glória para o Flamengo. O time conquistou a Copa do Brasil em 1990, o Estadual do Rio, em 1991 e o Campeonato Brasileiro em 1992. Nesta época, se destacaram no Rubro-Negro alguns jogadores consagrados, como Júnior, e outros despontando para uma carreira brilhante, como Renato Gaúcho e Zinho.
No período de 1990 até os dias de hoje o Flamengo teve como ídolos os craques: Sávio, Athirson, Júlio César, Adriano, Gilmar, Romário, Petkovic, Edílson, e com uma saída um tanto conturbada, o habilidoso Felipe.
Após o título brasileiro de 1992, na final contra o Botafogo, o clube entrou em uma grande crise financeira e as conquistas nacionais e internacionais tornaram-se menos freqüentes. Em 1995, ano do seu centenário, o radialista Kleber Leite assumiu a presidência do clube e contratou o atacante Romário, então o melhor jogador do mundo, que estava no Barcelona.
Mesmo com Romário (que nesse ano brigava contra Túlio e Renato Gaúcho pelo "título" de Rei do Rio) e outros craques que foram contratados, como Edmundo e Branco, o ano do centenário rubro-negro não foi vitorioso. O Flamengo conquistou apenas a Taça Guanabara com três gols de Romário contra o Botafogo.
Em 1996, o Flamengo conquista de forma invicta o Campeonato Carioca de Futebol e a Taça Guanabara, vencendo o Clube de Regatas Vasco da Gama no último jogo da Taça Rio e conquistando o título por antecipação, sem a necessidade de uma final. Romário foi o artilheiro do estadual, e Sávio o destaque da campanha do Flamengo na Copa Ouro Sul-Americana, onde o Rubro Negro sagraria-se campeão,Sávio terminou a competição como artilheiro ao marcar 3 vezes contra o São Paulo na final. Este foi o terceiro título internacional oficial do Flamengo.
Em 1999, assumiu Edmundo dos Santos Silva e, com ele, veio um contrato milionário com a empresa de marketing esportivo ISL. Apesar de campanhas ruins no Campeonato Brasileiro, o Flamengo se destacava em outras competições, tanto que sagrou-se tricampeão estadual (1999, 2000 e 2001) todas elas em cima do Vasco. Ganhou a Copa Mercosul em 1999 e a Copa dos Campeões, em 2001, dom destaque para jogadores como Edílson, Petkovic, Júlio César, Juan e Gamarra. Neste mesmo ano, o Flamengo iniciou uma série de campanhas pífias no Campeonato Brasileiro em que lutava contra o rebaixamento.
Em 2002, Edmundo dos Santos Silva foi afastado da presidência acusado de desviar dinheiro do clube. A ISL também faliu e o clube ficou sem seu parceiro milionário e sem os reforços que tinha trazido, como Denílson, Vampeta e Alex. Sem dinheiro para grandes contratações, o Flamengo não conseguiu formar equipes competitivas e por pouco não foi rebaixado no Campeonato Brasileiro em 2002, 2004 e 2005.
Em 2003 e 2004, ainda conseguiu chegar a final da Copa do Brasil. No primeiro ano, perdeu para o Cruzeiro. Na segunda vez, perdeu para o Santo André, no ano em que conquistou seu 28º título estadual em cima do rival Vasco da Gama, comandando por Ibson, Felipe, Jean e Zinho, e com grandes atuações do lateral Roger, principalmente nos clássicos contra o Fluminense.
Em 2006, chegou pela quinta vez à final da Copa do Brasil, porém desta vez consegue conquistar o título sobre o rival Vasco, ganhando novamente um título nacional, o que não acontecia desde 2001 com a conquista da Copa dos Campeões.
A conquista da Copa do Brasil de 2006, sob o comando do recém-chegado treinador, Ney Franco, afirmou a empatia de Obina com a torcida e a importância dos meias Jonatas e Renato para a equipe.
Este título chegou a repercutir internacionalmente, tanto que a FIFA fez uma matéria em seu site oficial com o título "Flamengo: a sleeping giant awakens". A tradução seria "Flamengo: o despertar de um gigante adormecido". O link para o site encontra-se nas referências externas.
Em 2007, paralelo a disputa da Taça Libertadores da América, o Flamengo conquista a Taça Guanabara 2007. Esta que foi a 17ª vez que o clube levanta a taça, sendo o maior vencedor da mesma. Na final contra o Botafogo, o Flamengo empata ambos os jogos em 2x2 e, nos pênaltis (4x2), sagra-se Campeão Carioca de 2007, o 29° título estadual de sua história.
No Campeonato Brasileiro de 2007, o Flamengo consegue uma reação inédita na história da competição. Sai da penúltima posição (21ª) para a terceira (3ª), conseguindo uma vaga na Taça libertadores da América de 2008. Neste ano, o destaque também fica por conta da torcida do clube, que consegue bater os recordes de público, consagra algumas canções, e recebe o título de Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro.
em 2008, o ano começou com mais uma conquista. O título da Taça Guanabara veio após uma emocionante vitória sobre o Botafogo de virada, num golaço do atacante Diego Tardelli.
Atualmente,temos a hegemonia do futebol carioca com 31 titulos e a do Brasil com 6 titulos brasileiros.

Histórias do Flamengo

A montagem do super Flamengo, o melhor time do mundo.
Depois da Copa, o Claudio Coutinho voltou a dirigir o Flamengo e começou a montagem do maior time do mundo, que durou até 1983, com a venda do Zico para a Udinense. Escaldado pela experiência e decepção da Copa na Argentina, ele reviu algumas idéias e realmente mudou todo o futebol brasileiro.
O time do Flamengo jogava por música. Com três ou quatro passes chegava ao gol adversário. Ver o Flamengo jogar virou programa de gente que nem flamenguista era. Futebol alegre, pra frente, com muitos gols. Com isso, o time foi ganhando projeção internacional e era convidado a toda hora para fazer amistosos, no Brasil e no exterior.
Um desses convites foi para jogar um torneio de verão na Espanha e, de lá, vários amistosos na Europa. Como não arranjei ninguém para ir comigo, lá fui eu sozinho. Nessa época eu já conhecia vários dirigentes, jogadores e, especialmente, um funcionário administrativo do clube, meu amigo Ayer Andrade, que me dava a programação completa da viagem, com jogos, hotéis e companhias aéreas. Com isso, montava meu roteiro, que incluía os mesmos vôos, ficava nos mesmos hotéis etc. Não era uma tietagem, e sim, uma forma de ter companhia em terras estranhas.
Apesar dos torneios de verão da Espanha serem desenhados para o time da casa ganhar, o Flamengo papava todos eles. Houve um em que acabamos a decisão com oito jogadores. Foi uma roubalheira danada de um juiz, que devia odiar preto e vermelho, pois expulsava qualquer jogador do Flamengo que passasse respirando perto dele. O saudoso Jorge Cúri quase morreu de tanta indignação. Foi uma época de ouro. O time se acostumou a jogar decisões e ganhá-las. O conjunto ia sendo moldado à imagem e semelhança de seu criador, Cláudio Coutinho.
Um fato que muito me marcou foi o início da nossa amizade. Batíamos longos papos e num deles ele me confidenciou:
- Moraes, tudo o que eu sou no futebol devo ao Mestre Zagalo. Ele é o mestre dos mestres. Aprendi muito com ele. Mas ainda assim tive que rever alguns conceitos que ele me ensinou, e talvez o tenha feito muito tarde. Por exemplo: se fosse hoje, eu ganhava fácil a Copa da Argentina. Talvez por inexperiência ou bobeira - sei lá - perdi uma Copa. Mas o Flamengo vai me levar de volta à Seleção, e eu vou ser campeão na Espanha. Anota aí - repetiu ele - vou ser campeão da Copa do Mundo na Espanha.
Ainda me lembro dessas palavras como se fosse hoje. Uma pena que o destino não tivesse compactuado com isso. Deus levou o Coutinho para treinar o "time do Céu" antes disso.
Ainda nessa excursão, fomos jogar na Hungria e o time adversário fazia uma marcação homem a homem, pelo número da camisa. O Coutinho, esperto, mandou o Cláudio Adão entrar com a 2 e o Toninho com a 9. Na hora de começar o jogo, lá estava o Adão na lateral direita, e o Toninho junto do Zico. Das cadeiras eu pensei:
- O homem pirou: o Coutinho ficou maluco, pensei!
Nem bem a bola rolou e os dois trocaram de posição. Os gringos colaram nos jogadores errados. Quando eles viram a mancada, já era tarde; tínhamos enfiado dois neles. Aí, meu irmão, um abraço...

Histórias do Flamengo

A montagem do super Flamengo, o melhor time do mundo.
Depois da Copa, o Claudio Coutinho voltou a dirigir o Flamengo e começou a montagem do maior time do mundo, que durou até 1983, com a venda do Zico para a Udinense. Escaldado pela experiência e decepção da Copa na Argentina, ele reviu algumas idéias e realmente mudou todo o futebol brasileiro.
O time do Flamengo jogava por música. Com três ou quatro passes chegava ao gol adversário. Ver o Flamengo jogar virou programa de gente que nem flamenguista era. Futebol alegre, pra frente, com muitos gols. Com isso, o time foi ganhando projeção internacional e era convidado a toda hora para fazer amistosos, no Brasil e no exterior.
Um desses convites foi para jogar um torneio de verão na Espanha e, de lá, vários amistosos na Europa. Como não arranjei ninguém para ir comigo, lá fui eu sozinho. Nessa época eu já conhecia vários dirigentes, jogadores e, especialmente, um funcionário administrativo do clube, meu amigo Ayer Andrade, que me dava a programação completa da viagem, com jogos, hotéis e companhias aéreas. Com isso, montava meu roteiro, que incluía os mesmos vôos, ficava nos mesmos hotéis etc. Não era uma tietagem, e sim, uma forma de ter companhia em terras estranhas.
Apesar dos torneios de verão da Espanha serem desenhados para o time da casa ganhar, o Flamengo papava todos eles. Houve um em que acabamos a decisão com oito jogadores. Foi uma roubalheira danada de um juiz, que devia odiar preto e vermelho, pois expulsava qualquer jogador do Flamengo que passasse respirando perto dele. O saudoso Jorge Cúri quase morreu de tanta indignação. Foi uma época de ouro. O time se acostumou a jogar decisões e ganhá-las. O conjunto ia sendo moldado à imagem e semelhança de seu criador, Cláudio Coutinho.
Um fato que muito me marcou foi o início da nossa amizade. Batíamos longos papos e num deles ele me confidenciou:
- Moraes, tudo o que eu sou no futebol devo ao Mestre Zagalo. Ele é o mestre dos mestres. Aprendi muito com ele. Mas ainda assim tive que rever alguns conceitos que ele me ensinou, e talvez o tenha feito muito tarde. Por exemplo: se fosse hoje, eu ganhava fácil a Copa da Argentina. Talvez por inexperiência ou bobeira - sei lá - perdi uma Copa. Mas o Flamengo vai me levar de volta à Seleção, e eu vou ser campeão na Espanha. Anota aí - repetiu ele - vou ser campeão da Copa do Mundo na Espanha.
Ainda me lembro dessas palavras como se fosse hoje. Uma pena que o destino não tivesse compactuado com isso. Deus levou o Coutinho para treinar o "time do Céu" antes disso.
Ainda nessa excursão, fomos jogar na Hungria e o time adversário fazia uma marcação homem a homem, pelo número da camisa. O Coutinho, esperto, mandou o Cláudio Adão entrar com a 2 e o Toninho com a 9. Na hora de começar o jogo, lá estava o Adão na lateral direita, e o Toninho junto do Zico. Das cadeiras eu pensei:
- O homem pirou: o Coutinho ficou maluco, pensei!
Nem bem a bola rolou e os dois trocaram de posição. Os gringos colaram nos jogadores errados. Quando eles viram a mancada, já era tarde; tínhamos enfiado dois neles. Aí, meu irmão, um abraço...

Histórias do Flamengo

Flamengo, Campeão Brasileio de 1980
Em 1980, finalmente, o Flamengo provava o que já era sabido desde 1977: que era o melhor time do mundo. Precisávamos, contudo, ganhar o Campeonato Brasileiro para ir à Taça Libertadores da América e depois ao título Mundial dos Clubes. A final foi entre o Flamengo e o Atlético Mineiro (tinha um timaço), com a primeira partida realizada no Mineirão. Jogo chato pra cacete. Daqueles de torcedor enfartar.
Para ver o jogo a Raça lotou uns cem ônibus, e contava com o apoio da torcida do Cruzeiro e dos milhares de flamenguistas que moravam lá. No meio do caminho entre Rio e Belo Horizonte existe um restaurante muito conhecido e que hoje está presente em todos os maiores shoppings do Brasil - o Cupim. É ele mesmo, o dos pães de batata. Este restaurante ganhou fama entre os integrantes da caravana pela bela coleção de peixes ornamentais que possuía e pelos faisões que ciscavam tranqüilos no quintal.
Nem bem o ônibus em que eu estava parou, todo mundo desceu para ver os tais peixes e faisões. Achei estranho tamanho interesse em coisas tão delicadas, vindo de gente que nunca foi conhecida pela fineza dos tratos. Comecei a entender o que se passava quando vi o Kadoca descer com uma lata grande. Resolvi acompanhá-lo e o vi enchendo a lata d'água, e enfiando a mão no aquário para pegar os peixes. Quando voltamos para o ônibus, outra presença marcante - um faisão sentado em uma das poltronas.
Seguimos viagem sem outras paradas e com diversos peixes mortos pelo chão do ônibus. Quanto ao faisão, ou foi comido cru ou foi jogado pela janela do ônibus. Desnecessário dizer que, nos muitos Flamengo e Atlético que se sucederam, o Cupim passou a ter um batalhão de polícia na porta, que impedia a parada de qualquer ônibus de torcida.
Perdemos o jogo por 1 x 0. Um grande jogo. Pelo placar apertado achava que dava para reverter no Maracanã. Já me considerava campeão. No jogo de volta uma vitória simples daria o título ao Flamengo. Sabíamos que ganharíamos, mas foi uma pedreira. Ganhamos de 3x2, com direito a "enfarto" coletivo. Os 10 mil componentes da Raça "morreram" do coração. Que sufoco... Flamengo Campeão Brasileiro. A longa estrada para Tóquio começava a ser desbravada.

Histórias do Flamengo.

Final do Mundial Interclubes 1981 em Tóquio
Todo mundo queria ir a Tóquio. Afinal, quem não queria ver o Flamengo Campeão do Mundo? O diabo era o preço. Várias agências de viagens queriam faturar em cima do nome Flamengo, vendendo pacotes a preços proibitivos. Eu e o Zé Carlos descobrimos que a Imperial Turismo, uma operadora de viagem, tinha bolado um plano especial, com o intuito de divulgar o turismo no Japão, lugar até então inacessível para o turista brasileiro.
Partimos para lá e o pessoal da Imperial nos indicou duas agências, já que eles, como operadores, não podiam vender os pacotes. De posse do nome e do endereço das agências, procuramos a que desse melhores condições para o grupo. Escolhemos uma e divulgamos o nome para a galera. O chato é que o Cláudio, o César, e o Ramon acreditaram nas promessas mirabolantes da agência concorrente, que prometeu passagens para os três, caso levassem o pessoal para lá.
Muito constrangido, mantive a minha palavra com a primeira agência, até porque o preço era melhor. A concorrência entre as agências dividiu a galera e, no final, só foram 46 pessoas, sendo que somente uns dez eram de torcedores de arquibancada. O resto, só bicão aproveitando o preço barato. Infelizmente, a agência do Cláudio só vendeu onze pacotes e ofereceu apenas um, para os três. Eles bateram o pé: ou iam os três, ou não ia ninguém. Se estreparam: nenhum foi. Havia dois tipos de pacotes: um, de sete dias, que fazia Rio-Tóquio-Rio, com hotel, translado e ingresso para o jogo; e outro, com direito a ir ao Havaí, Los Angeles e Nova Iorque. Escolhi o primeiro porque não fui fazer turismo: fui ver futebol. Fui ver o Flamengo Campeão do Mundo.
Saímos de VARIG para Tóquio, via Los Angeles, onde embarcou a delegação do Flamengo, que estava lá para se adaptar ao fuso horário. Foram 32 horas de vôo, com mudanças constantes de fuso horário, e comida, muita comida. Era café da manhã, almoço, jantar, não dava tempo nem de escovar os dentes. Nunca comi tanto num avião. Chegamos em Tóquio as três da tarde, morrendo de cansaço. O tiro de misericórdia foi o trajeto do aeroporto para o hotel. Seis horas num engarrafamento de dar inveja à rua das Laranjeiras. E olha que a distância não passava de 40 quilômetros.
No hall do hotel tinha uma multidão de brasileiros residentes no Japão. Eu já saí do Brasil com a idéia de fazer uma faixa da Raça em japonês. Assim que cheguei, escolhi um dos brasucas e pedi ajuda. Subi para o meu quarto, deixei as malas, tomei um banho e fui à luta. Juntamente com o Zé e o brasuca, fomos comprar pano preto. No saguão do hotel fizemos a faixa e, com esparadrapo, as letras. Ficou muito bonita, elogiada por toda a delegação do Flamengo. Por falar em saguão, ele testemunhou os efeitos do fuso horário no corpo humano. Todo dia, lá pelas quatro ou cinco da tarde, depois do almoço, era comum ver a brasileirada dormindo nos amplos sofás, pensando que eram quatro da manhã.
No hotel, o excelente Takanawa Prince, as refeições não estavam incluídas no pacote, só o café da manhã. Acontece que, no térreo, havia vários restaurantes, e o caixa era único, no meio de um corredor. Você comia em qualquer um deles, recebia a nota do garçom, saía do restaurante e ia ao caixa pagar a conta. O Zé Carlos jura que foi "esquecimento", mas ele não pagou a primeira. A partir daí, ninguém mais se lembrava que tinha que pagar na saída. Eu, o Zé (de novo), o Siri e o Tampa passamos nossos dias no Japão com amnésia, guardando as notas como recordação. Só lembramos que tínhamos que pagar as refeições quando estávamos no Brasil, dois anos depois.
Na véspera da partida, para relaxar, fomos fazer turismo em Tóquio. Entramos numa loja da Mizuno para comprar tênis e material esportivo. Aí o problema da amnésia foi grave. Eu trouxe 16 pares de tênis e somente paguei dois. Puro esquecimento...O Siri, então, exagerou - levou o que podia, no que foi acompanhado pelo Tampa. Os dois levavam três conjuntos de trainning para experimentar, e devolviam um, vestindo a roupa por cima dos outros dois. O Zé tirou onda de honesto (só levou algumas meias), mas depois me confessou que não levou nada mais porque nenhum tênis cabia no seu pé. Ele calça 44 e o maior era 40! Ele até hoje se queixa:
- Pois é, tinha um Mizuno de corrida lindão, levinho...Pena que ficou um pouco apertado no meu pé. O tênis era tamanho 39. Essa história de levar coisas do Japão pegou muito mal. Teve muito jogador e jornalista entrando descalço em loja e saindo calçado, sem pagar nada.
No dia do jogo estávamos "concentrados" no hall do hotel, prontos para ir pro estádio, quando eu ouço o Zé gritar:
- Que porra é essa?! - e apontava, indignado, para um grupo de pessoas conversando.
Sua raiva era voltada a um cidadão vestido com a camisa do Botafogo. Imaginem, uma camisa alvi-negra ali, em pleno Japão. Só podia ser para secar. Pensamos em matar o cara, mas nos controlamos. Afinal, era apenas mais um dos forasteiros que aproveitaram a passagem barata para fazer turismo. O Ari (era o nome do cachorrão) é, hoje em dia, meu amigo e sempre me garantiu que torceu pelo Flamengo porque, afinal, nós éramos o Brasil... É difícil de engolir, mas, vá lá.
Passado o incidente com o botafoguense, partimos cedo para o estádio. O clima era de confiança total; estávamos absolutamente tranqüilos. Enfrentar times europeus foi sempre uma "teta". No estádio, a Toyota fez uma festa muito bonita. Distribuiu, aproximadamente, cinco mil camisas e bandeiras com as cores do Flamengo, e igual número com as do Liverpool. Aparentemente o estádio estava dividido, mas, como havia mais brasileiros do que ingleses, atraímos o povão para o nosso lado. Com a faixa da Raça na mão, tentamos explicar a um guarda que precisávamos entrar no campo para colocá-la. Gesticulando muito, conseguimos entrar em campo (nada divide a arquibancada do gramado, exceto um muro de um metro de altura), pendurar a faixa e dar uma curtida. Caminhamos pela pista do estádio olímpico: vimos de perto os Toyotas que o Zico e o Nunes levariam de presente, fomos saudar parte da torcida que estava no outro lado e voltamos. Uma festa. Só faltava o meu Mengão ganhar. Metemos 3 x 0 neles, com vinte minutos de jogo. O time jogava como uma orquestra e o Zico queria jogo, e quando o Galo quer jogo... Acabou com eles. Foi uma covardia. Não deu nem muita emoção, tamanha foi a facilidade. Não houve comemoração em Tóquio. Somente no hall do hotel uma mini batucada, e negozinho tirando fotos com os jogadores e a taça. E só! À noite, nosso grupo partia de volta, enquanto que o resto do pessoal tinha mais um dia de "compras" antes de ir para o Havaí. Soube depois que teve gente que pegou até sapatilha de corredor, dessas que só servem se seu nome é Robson Caetano, só pelo prazer de comprar com pagamento "a perder de vista"...

Histórias do Flamengo.

Final do Mundial Interclubes 1981 em Tóquio
Todo mundo queria ir a Tóquio. Afinal, quem não queria ver o Flamengo Campeão do Mundo? O diabo era o preço. Várias agências de viagens queriam faturar em cima do nome Flamengo, vendendo pacotes a preços proibitivos. Eu e o Zé Carlos descobrimos que a Imperial Turismo, uma operadora de viagem, tinha bolado um plano especial, com o intuito de divulgar o turismo no Japão, lugar até então inacessível para o turista brasileiro.
Partimos para lá e o pessoal da Imperial nos indicou duas agências, já que eles, como operadores, não podiam vender os pacotes. De posse do nome e do endereço das agências, procuramos a que desse melhores condições para o grupo. Escolhemos uma e divulgamos o nome para a galera. O chato é que o Cláudio, o César, e o Ramon acreditaram nas promessas mirabolantes da agência concorrente, que prometeu passagens para os três, caso levassem o pessoal para lá.
Muito constrangido, mantive a minha palavra com a primeira agência, até porque o preço era melhor. A concorrência entre as agências dividiu a galera e, no final, só foram 46 pessoas, sendo que somente uns dez eram de torcedores de arquibancada. O resto, só bicão aproveitando o preço barato. Infelizmente, a agência do Cláudio só vendeu onze pacotes e ofereceu apenas um, para os três. Eles bateram o pé: ou iam os três, ou não ia ninguém. Se estreparam: nenhum foi. Havia dois tipos de pacotes: um, de sete dias, que fazia Rio-Tóquio-Rio, com hotel, translado e ingresso para o jogo; e outro, com direito a ir ao Havaí, Los Angeles e Nova Iorque. Escolhi o primeiro porque não fui fazer turismo: fui ver futebol. Fui ver o Flamengo Campeão do Mundo.
Saímos de VARIG para Tóquio, via Los Angeles, onde embarcou a delegação do Flamengo, que estava lá para se adaptar ao fuso horário. Foram 32 horas de vôo, com mudanças constantes de fuso horário, e comida, muita comida. Era café da manhã, almoço, jantar, não dava tempo nem de escovar os dentes. Nunca comi tanto num avião. Chegamos em Tóquio as três da tarde, morrendo de cansaço. O tiro de misericórdia foi o trajeto do aeroporto para o hotel. Seis horas num engarrafamento de dar inveja à rua das Laranjeiras. E olha que a distância não passava de 40 quilômetros.
No hall do hotel tinha uma multidão de brasileiros residentes no Japão. Eu já saí do Brasil com a idéia de fazer uma faixa da Raça em japonês. Assim que cheguei, escolhi um dos brasucas e pedi ajuda. Subi para o meu quarto, deixei as malas, tomei um banho e fui à luta. Juntamente com o Zé e o brasuca, fomos comprar pano preto. No saguão do hotel fizemos a faixa e, com esparadrapo, as letras. Ficou muito bonita, elogiada por toda a delegação do Flamengo. Por falar em saguão, ele testemunhou os efeitos do fuso horário no corpo humano. Todo dia, lá pelas quatro ou cinco da tarde, depois do almoço, era comum ver a brasileirada dormindo nos amplos sofás, pensando que eram quatro da manhã.
No hotel, o excelente Takanawa Prince, as refeições não estavam incluídas no pacote, só o café da manhã. Acontece que, no térreo, havia vários restaurantes, e o caixa era único, no meio de um corredor. Você comia em qualquer um deles, recebia a nota do garçom, saía do restaurante e ia ao caixa pagar a conta. O Zé Carlos jura que foi "esquecimento", mas ele não pagou a primeira. A partir daí, ninguém mais se lembrava que tinha que pagar na saída. Eu, o Zé (de novo), o Siri e o Tampa passamos nossos dias no Japão com amnésia, guardando as notas como recordação. Só lembramos que tínhamos que pagar as refeições quando estávamos no Brasil, dois anos depois.
Na véspera da partida, para relaxar, fomos fazer turismo em Tóquio. Entramos numa loja da Mizuno para comprar tênis e material esportivo. Aí o problema da amnésia foi grave. Eu trouxe 16 pares de tênis e somente paguei dois. Puro esquecimento...O Siri, então, exagerou - levou o que podia, no que foi acompanhado pelo Tampa. Os dois levavam três conjuntos de trainning para experimentar, e devolviam um, vestindo a roupa por cima dos outros dois. O Zé tirou onda de honesto (só levou algumas meias), mas depois me confessou que não levou nada mais porque nenhum tênis cabia no seu pé. Ele calça 44 e o maior era 40! Ele até hoje se queixa:
- Pois é, tinha um Mizuno de corrida lindão, levinho...Pena que ficou um pouco apertado no meu pé. O tênis era tamanho 39. Essa história de levar coisas do Japão pegou muito mal. Teve muito jogador e jornalista entrando descalço em loja e saindo calçado, sem pagar nada.
No dia do jogo estávamos "concentrados" no hall do hotel, prontos para ir pro estádio, quando eu ouço o Zé gritar:
- Que porra é essa?! - e apontava, indignado, para um grupo de pessoas conversando.
Sua raiva era voltada a um cidadão vestido com a camisa do Botafogo. Imaginem, uma camisa alvi-negra ali, em pleno Japão. Só podia ser para secar. Pensamos em matar o cara, mas nos controlamos. Afinal, era apenas mais um dos forasteiros que aproveitaram a passagem barata para fazer turismo. O Ari (era o nome do cachorrão) é, hoje em dia, meu amigo e sempre me garantiu que torceu pelo Flamengo porque, afinal, nós éramos o Brasil... É difícil de engolir, mas, vá lá.
Passado o incidente com o botafoguense, partimos cedo para o estádio. O clima era de confiança total; estávamos absolutamente tranqüilos. Enfrentar times europeus foi sempre uma "teta". No estádio, a Toyota fez uma festa muito bonita. Distribuiu, aproximadamente, cinco mil camisas e bandeiras com as cores do Flamengo, e igual número com as do Liverpool. Aparentemente o estádio estava dividido, mas, como havia mais brasileiros do que ingleses, atraímos o povão para o nosso lado. Com a faixa da Raça na mão, tentamos explicar a um guarda que precisávamos entrar no campo para colocá-la. Gesticulando muito, conseguimos entrar em campo (nada divide a arquibancada do gramado, exceto um muro de um metro de altura), pendurar a faixa e dar uma curtida. Caminhamos pela pista do estádio olímpico: vimos de perto os Toyotas que o Zico e o Nunes levariam de presente, fomos saudar parte da torcida que estava no outro lado e voltamos. Uma festa. Só faltava o meu Mengão ganhar. Metemos 3 x 0 neles, com vinte minutos de jogo. O time jogava como uma orquestra e o Zico queria jogo, e quando o Galo quer jogo... Acabou com eles. Foi uma covardia. Não deu nem muita emoção, tamanha foi a facilidade. Não houve comemoração em Tóquio. Somente no hall do hotel uma mini batucada, e negozinho tirando fotos com os jogadores e a taça. E só! À noite, nosso grupo partia de volta, enquanto que o resto do pessoal tinha mais um dia de "compras" antes de ir para o Havaí. Soube depois que teve gente que pegou até sapatilha de corredor, dessas que só servem se seu nome é Robson Caetano, só pelo prazer de comprar com pagamento "a perder de vista"...